
"Minha filha detesta que eu penteie o cabelo dela, não deixa que prenda ou coloque qualquer enfeite, como laços e presilhas. Não consigo entender, parece que ela tem uma ‘gastura’ quando mexem no seu cabelo”.
Você sabia que existe uma explicação clínica para comportamentos como esse, pouco conhecida pelos pais e até por muitos profissionais da saúde? Chama-se Disfunção de Integração Sensorial (DIS). Mas, para compreender o que é DIS, é necessário entender primeiro o que é Integração Sensorial (IS).
IS é a habilidade de, através dos sentidos, receber as informações do ambiente, integrá-las com conhecimentos prévios e então emitir uma resposta adequada. Esse processo é dinâmico, acontece o tempo todo e de maneira harmônica, como quando seguramos um copo de vidro ou um copo descartável com a força ideal para que ele não caia ou deforme.
Já na DIS, a informação do meio externo é recebida, mas não é interpretada pelo cérebro adequadamente, levando a uma resposta inapropriada. Por exemplo, quando colocamos muita força e amassamos o copo descartável por não termos percebido que, para segurá-lo, a força deve ser menor do que aquela utilizada para o copo de vidro.
Crianças com DIS geralmente enfrentam dificuldades em suas ocupações (brincadeira, escola, participação social e autocuidado) e, por apresentarem respostas inadequadas às demandas ambientais, podem se passar por tímidas, sistemáticas, “frescas”, enjoadas, hiperativas, preguiçosas ou bagunceiras. É importante ter atenção a esses sinais!
Estas são algumas características comuns em crianças com DIS:
» Negam-se a tocar texturas diferentes (grama, areia, tinta, cola etc.);
» Apresentam dificuldade em se manterem sentadas;
» Parecem desajeitadas e com pouca habilidade para jogos de montar/encaixar;
» Evitam atividades motoras novas; » Não gostam das aulas de educação física;
» Comem lápis, borracha e mastigam os cabelos;
» São lentas;
» Quando estão sentadas, apoiam a cabeça como se estivessem cansadas;
» Apresentam dificuldade em utilizar a tesoura;
» Escrevem com muita força ou fraco demais.
O terapeuta ocupacional que trabalha com a abordagem de IS é o profissional mais indicado para tratar a DIS. Os atendimentos são realizados em um ambiente rico em estímulos sensoriais, onde se respeita a tolerância da criança e ela tem a oportunidade de experimentar e explorar seu corpo e as sensações de maneira lúdica e dirigida pelos seus interesses.
Vale lembrar que a terapia só é indicada quando a DIS tem impacto no desempenho funcional da criança. Ou seja, quando ela apresenta dificuldade para desempenhar suas atividades no dia a dia.
Fonte: Revista Canguru/setembro